O Brasil desempenha um papel de destaque no mercado de alimentos, liderando a produção e exportação de commodities como soja, café e etanol. O potencial de expansão nesse setor é evidente, uma vez que a demanda global por esses produtos continua a crescer, considerando ainda que a exportação de produtos do Agro no Brasil tem uma grande relevância na balança comercial do país.
O agronegócio brasileiro representa mais de 26% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e, durante os anos de crise recentes, desempenhou um papel fundamental na sustentação da economia nacional. Além disso, estudos conduzidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento apontam que a produção de grãos deve aumentar em cerca de 27% até 2030. No entanto, para consolidar e ampliar sua posição, é imperativo que o país adote as melhores práticas do agronegócio, com isso, tem-se a grande responsabilidade de entregar produtos seguros e de qualidade para os importadores e consumidores finais.
Nesse sentido, em 2020, alguns frigoríficos exportadores de carne foram confrontados com a necessidade de manter registros detalhados de todos os bovinos adquiridos. Isso foi uma resposta direta à crescente preocupação com a origem desses animais e seu possível vínculo com áreas de desmatamento, enfatizando o compromisso com a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade. Esse marco incentivou a adoção generalizada da prática de rastreabilidade de alimentos por parte dessas empresas.
Por outro lado, um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) lançou luz sobre preocupantes conclusões relacionadas ao aumento das emissões de gases de efeito estufa e ao aquecimento global. Há uma tendência alarmante de elevação das temperaturas, que pode superar a média global, e mudanças significativas nos padrões de precipitação, com mais chuvas nas regiões Sul e Sudeste e períodos de seca no Nordeste. Diante desse cenário, medidas urgentes são necessárias para reverter essa trajetória, principalmente porque as questões climáticas influenciam diretamente o setor de agronegócio, assim como a recíproca também é verdadeira. Embora muitas metas relacionadas a questões socioambientais estejam direcionadas para 2050 ou para o final deste século, é essencial implementar mudanças a curto prazo para lidar com os desafios climáticos iminentes e prevenir crises sociais, que se tornaram ainda mais evidentes com a pandemia de Covid-19.
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No centro dessas discussões relacionadas às mudanças climáticas, há a crescente pressão dos consumidores por práticas mais sustentáveis no agronegócio. Simultaneamente, os investidores demonstram uma crescente relutância em financiar empresas que não estejam alinhadas com a proteção ambiental. Nesse sentido, algumas medidas importantes são necessárias, dentre elas se destacam a rastreabilidade em toda a cadeia de valor, investimentos em inovação e digitalização, redução das emissões de carbono e uso responsável dos recursos naturais, avaliação do impacto nas comunidades envolvidas e a promoção de lideranças mais transparentes.
É importante pontuar que o agronegócio vem sendo um dos setores mais “atacados” pela população por suas atividades fins, mas isso não significa que práticas voltadas à sustentabilidade, direitos humanos e uma governança ética não podem ser implementadas. Assim, ao adotar essas medidas integradas às práticas ESG em suas operações, o agronegócio brasileiro pode não apenas enfrentar os desafios do cenário global atual, mas também posicionar-se como um setor líder na busca por um futuro mais sustentável.
As vantagens competitivas de adotar práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) no agronegócio são notáveis. Empresas que se comprometem com essas iniciativas podem desfrutar de taxas de juros mais baixas, oferecidas por instituições financeiras que incentivam a sustentabilidade. Além disso, abrir-se-ão oportunidades de acesso a novos mercados e, consequentemente, uma melhoria na lucratividade, resultando em maior eficiência operacional e a atração de novos investidores.
A PwC Brasil, em seu relatório “Importância da Agenda ESG no Agronegócio”, prioriza sete ações cruciais que gestores e empresários do setor em comento podem implementar para compactuar com a governança corporativa. Dentre elas, destacam-se o estabelecimento de um plano estruturado de sucessão com a revisão da estrutura societária, a adoção de boas práticas de governança corporativa, incluindo a formação de um conselho de administração, seus comitês de supervisão, gestão de riscos e conformidade e o envolvimento de acionistas nas discussões sobre oportunidades e desafios, priorizando suas principais preocupações.
Como exemplo de práticas sustentáveis, conectadas ao ramo “E” do acrônimo ESG, pode-se citar a agricultura sustentável, com a devida implementação de práticas agrícolas que reduzam o impacto ambiental, como o manejo integrado de pragas e uso eficiente de recursos hídricos; a utilização de energias renováveis, como a solar ou eólica, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e consequentemente a emissão de gases de efeito estufa, e; a preservação da biodiversidade, auxiliando na preservação de ecossistemas locais. Como exemplo, pode-se citar a MC Cormick, multinacional americana focada no setor agroalimentar, que fornece aos funcionários ferramentas que reduzem o gasto de água e desperdício de energia, bem como se utilizam de tratores, que respondem cada vez mais às necessidades dos agricultores que desejam aumentar a sua produtividade mantendo a alta qualidade e respeitando a terra.
Adentrando-se ao setor social, é imperativo que as empresas do setor disponibilize condição de trabalho justas, tenha um respeito pela comunidade local – com a colaboração ativa com práticas que auxiliem no desenvolvimento local, apoiando a projetos sociais e promovendo o desenvolvimento sustentável, e contribuindo para a segurança dos alimentos. Como exemplo, cita-se a Frooty, empresa voltada ao setor extrativista com a exportação e importação de produtos derivados do açaí, que contribui ativamente para a comunidade dos locais em que a coleta do fruto e as suas indústrias estão instaladas, com a implementação de programas que fomentam a presença de alunos em escolas, reduzindo drasticamente o índice de trabalho infantil.
No que diz respeito à governança, várias medidas podem ser citadas. Das mais importantes, destacam-se o comprometimento com a transparência e prestação de contas, a implementação de políticas e práticas que regem a rotina da empresa, elaboração de relatórios regulares, a adoção de padrões éticos rigorosos em todas as operações e uma eficiente gestão de riscos.
Ante o exposto, é importante destacar que, embora o setor do agronegócio tenha uma relação delicada com o meio ambiente, as práticas ESG podem estar em diversos locais da sua cadeia de valor, reduzindo possíveis impactos das operações, alterando-os de negativos para positivos, tornando o setor mais responsável e podendo contribuir para que os 17 objetivos sustentáveis sejam alcançados no tempo em que se espera.
Adalberto Fraga Veríssimo Júnior
Artur Simões Campelo de Araújo
Marianna Gomes de Alencar