Duas movimentações, que evoluíram durante os anos de 2021 e 2022, fizeram com que as empresas se atentassem mais para o bem-estar dos colaboradores. O termo “quiet quitting” (desistência silenciosa) foi criado para definir um equilíbrio realizado pelo trabalhador em relação a suas tarefas e a ligação dessas demandas com o tempo de trabalho.
Com isso, o colaborador atua para realizar as tarefas e conciliar tudo durante o tempo estipulado. Caso não aconteça, ele se retira no horário combinado e se volta para seus interesses pessoais.
Já o The Great Resignation (A Grande Renúncia) levou mais de 39 milhões de pessoas nos Estados Unidos a se demitirem. O motivo, de acordo com especialistas da área, é a necessidade de ter uma melhor qualidade de vida.
De acordo com o diretor de transformação de RH da Mercer Brasil, Guilherme Portugal, “as pessoas estão cada vez menos dispostas a comprometer a saúde em troca de um salário, e as empresas já perceberam isso.”
“É sabido que ambientes tóxicos prejudicam a saúde dos trabalhadores e, por consequência, influem na produtividade. Mas isso é uma percepção que precisa ser traduzida em dados”, completa.
Bem-estar
Uma consultoria compartilhou, em 2022, um levantamento sobre a Tendências Globais de Talento levando em consideração a opinião de 10.910 profissionais de 16 diferentes países. No Brasil 500 pessoas foram consultadas.
Após o estudo foi possível identificar que 81% dos entrevistados consideram estar prestes a ter um burnout (esgotamento). Outros 50% dos entrevistados procuram um futuro com mais harmonia entre trabalho, saúde (em seus diferentes aspectos) e vida pessoal.
40% das instituições revelam que criaram um plano para o bem-estar integral. No entanto, somente uma em cada três dessas empresas possui ações voltadas para a agenda ESG.
“O tema saúde mental nunca foi tão crítico, porque custa para as empresas, com afastamentos, absenteísmo, baixa produtividade e até dificuldade de atrair jovens talentos”, destaca a psicóloga Sandra Gioffi, diretora da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH).
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Ela ainda reforça que não é somente a quantidade de trabalho ou pressão para atingir os objetivos esperados que ocasionam o burnout. “O que faz uma pessoa adoecer é a combinação desse quadro com a qualidade das relações. As pessoas, normalmente, não se demitem do CNPJ, e sim do CPF. Ou seja, de lideranças tóxicas.”
Os advogados entram no grupo de profissões consideradas mais estressantes. Conforme revelou a pesquisa realizada pela organização não governamental do Reino Unido direcionada ao mundo jurídico, a LawCare, ao trazer que 69% tiveram problemas com ansiedade, depressão e outras doenças mentais. O levantamento foi realizado com base no relato de 1,7 mil profissionais.
Um advogado e sócio de uma banca de São Paulo, que atua há 45 anos na área, afirmou que a rotina em escritórios é complexa com temas sérios que exigem uma maior disponibilidade de tempo. “Se o telefone toca de madrugada, é preciso atender”, finaliza.
Mulheres em postos de destaque
Alguns escritórios de advocacia estão tentando alinhar o bem-estar com os trabalhos. Após o caso recente envolvendo um estagiário, o escritório Mattos Filho decidiu alterar o programa de Jovens Talentos.
O tempo de trabalho foi alterado para cinco horas, no modelo híbrido e com tempo de licença de 15 dias para auxílio durante os estudos para os exames da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Segundo Roberto Quiroga, sócio no Mattos Filho: “o grande desafio em todo o mercado é entender como chegar ao equilíbrio entre a alta performance e o bem-estar. Vamos provar que é possível”. Atualmente possui 1,8 mil funcionários e 250 estagiários.
Médicos e enfermeiros também sofrem estresses diários com os seus trabalhos. Fátima Silvana Furtado Gerolin, enfermeira que responde pela diretoria executiva assistencial do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, afirma que “lidamos com situações em que o ser humano mostra toda a sua vulnerabilidade”.
Casos de assédio nas empresas
Gerolin informou ainda que grandes empresas de saúde possuem ações de apoio com a intenção de reduzir os casos de estresse. Um exemplo disso é o Programa de Apoio Pessoal do Oswaldo Cruz, que funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana.
Adriana Reis de Araújo, coordenadora nacional de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho do Ministério Público do Trabalho (MPT) confirma que ter mais diversidade no trabalho também influencia na saúde de todos os colaboradores. “Um ambiente de trabalho que não tem diversidade, tende a ser mais violento.”
Quando os canais de denúncia internos não funcionam, os trabalhadores costumam seguir com o MPT. Em São Paulo houve um aumento expressivo de 17%, em 2022, na quantidade de denúncias de assédio sexual e moral.
Fonte: O Globo
Autor(a): Eliane Sobral